Como Escrever um Conto Erótico



Escrito por J. K.


Antes de tudo, é preciso fazer um pequeno esclarecimento. Aqui tratarei apenas de ‘contos eróticos’, deixando de lado aqueles outros escritos que podemos chamar de ‘relatos eróticos’ e que, quase sempre, no ambiente dos ‘contos eróticos online’, as pessoas confundem com os primeiros.

Em geral, a principal diferença é que o relato erótico pretende narrar apenas ‘fatos verídicos’ e possui uma estrutura padronizada, iniciando com uma apresentação e descrição das personagens. É uma narrativa simples que sempre termina numa ‘cena’ de sexo explícito. Não costuma ter pretensão literária; é apenas o relato pessoal de uma experiência sexual.

O ‘conto erótico’, por outro lado, não tem compromisso com o verídico. Pode até narrar fatos reais, como ocorre muitas vezes, mas isso não é essencial. Ao contrário do relato sexual, o conto erótico tenta fugir do lugar-comum e descreve as coisas com uma linguagem mais criativa. É um gênero de ficção.

Quero deixar claro que não estou fazendo nenhum tipo de julgamento ou crítica implícita a quem escreve ‘relatos eróticos’. Estes também são interessantes quando bem escritos.

Agora que nos entendemos, podemos passar às nossas dicas.

Encontre uma ideia excitante:

A inspiração para escrever vem em forma de ideias. Para encontrá-las, procure pensar em situações que sejam excitantes para você. A ideia para uma história é seu ponto de partida, a ‘célula tronco’ do seu trabalho, a qual dará origem a todas as outras ideias e desdobramentos da sua criação. Uma boa ideia, embora não seja, por si só, garantia de sucesso, já coloca você no caminho certo desde o início.

Nem é preciso que seja uma ideia original. Imagine apenas uma situação que possa despertar o seu interesse erótico. A originalidade virá da maneira como você desenvolverá a história, da linguagem escolhida, enfim, do seu estilo de escrever.

Você pode tirar suas ideias de várias fontes: das lembranças da adolescência e das primeiras experiências com o sexo, de suas fantasias, ou até de suas experiências recentes. É pouco relevante se os acontecimentos são verídicos ou não. O que importa é a história ser convincente.



Foque nos aspectos psicológicos

Um erro comum presente em muitas das narrativas que leio online é o autor concentrar-se apenas nos aspectos físicos e nas ações das personagens, resultando em histórias desinteressantes, muito explícitas, mas pouco eróticas. A aparência, os detalhes corporais e os atos das personagens não são eróticos por si sós. É mais importante descrever o que as personagens sentem. Explore o mundo interior delas falando dos seus medos ou preconceitos, tabus, conflitos e paixões. Nas passagens que narram as relações sexuais, descreva as sensações, as dores e os prazeres sentidos.

Desenvolva um conflito para sua história

Arrisco dizer que, sem um conflito, não há conto erótico. Sem ele, é muito pouco provável que o leitor tenha interesse em continuar a leitura, pois é o conflito que mantém esse leitor atento e curioso. A mera descrição de cenas de sexo pode ser interessante de alguma forma para alguns leitores, mas é o conflito que provoca a tensão e a expectativa necessária. O conflito dá também sentido e rumo à narrativa.

Esse conflito pode ser basicamente de dois tipos: interno ou externo. Exemplos de conflitos externos são as dificuldades impostas por outros personagens, ou pela sociedade, ou pelo ambiente ou por qualquer outro obstáculo que não derive da própria psicologia da personagem. Já os conflitos internos são barreiras psicológicas, medos, inibições, preconceitos e todo tipo de sentimento ou incapacidade que dificulta a busca da personagem pela realização dos seus desejos e vontades.

Em uma de suas conhecidas histórias, Anais Ninn desenvolve um interessante conflito ao criar uma personagem feminina que se excitava tão fácil e ficava ‘tão molhada entre as pernas’ que precisava sempre lutar contra si mesma e fingir desinteresse pelos homens que conhecia.

Mantenha seu leitor ‘em suspense‘

Toda boa história consegue manter o leitor interessado do começo até o fim. Há vários fatores que contribuem para isso, porém o mais importante é a capacidade de deixar o leitor curioso ou em suspense. Por mais previsível que seja sua narrativa, esforce-se para manter o desfecho em segredo até o final. Deixe o leitor descobri-lo por si mesmo. Se puder, crie expectativas e pequenos mistérios. E evite, principalmente, revelar qualquer tipo de informação antecipadamente. Um erro básico e muito comum é contar o que irá acontecer logo no título ou na introdução do conto. Por exemplo, é fraco um começo do tipo:

“Na história de hoje, irei contar como seduzi minha linda vizinha, e como a levei para um motel.”

Logo de início, o narrador revela que conseguiu o que queria, fazendo praticamente um resumo dos fatos que pretende narrar. O leitor já sabe, pelo menos, que houve um ‘happy end’, o que, convenhamos, é chato. Muito melhor seria, por exemplo:

“Desde quando ela veio morar na casa ao lado, não pensei em outra coisa: ‘essa mulher um dia será minha!’ Mas como seduzir uma mulher tão linda?”

Percebe o tom de incerteza e o ‘mistério’ nessa outra versão? As apas de ‘mistério’ é porque não estou falando de escrever um ‘conto de mistério’. É mais uma questão de fazer pequenas provocações à curiosidade do leitor. Ou, pelo menos, evitar dar ‘spoiler’.

Utilize uma linguagem adequada

Talvez a maior habilidade de um escritor é conhecer e saber usar as palavras. Isso pode parecer óbvio porque, afinal de contas, elas são a matéria-prima de quem escreve. Mas poucos levam essa noção a sério. Saber escolher as palavras mais adequadas é essencial para causar o efeito pretendido.

A linguagem deve se ajustar ao tom do texto. Por exemplo, se sua história é cômica, escolha palavras que soem engraçadas. Se é dramática, a escolha de palavras deve ser séria. Se o foco é mais erótico, não tenha medo de usar termos francamente obscenos. Caso se trate de algo romântico, é preferível ser mais sutil e delicado na linguagem.

Quando em dúvida, pesquise sinônimos e tente entender as diferenças de significado. Atente para o contexto em que quer usar a palavra e para as nuances de significado. Por exemplo, as palavras ‘rosto’, ‘face’ e ‘cara’ são sinônimas entre si, mas cada uma tem sua própria carga expressiva. ‘Rosto’ é uma palavra mais neutra; ‘face’ é mais delicada; e ‘cara’ é um pouco rude. Considere o seguinte trecho:

“Naquela manhã, Sandra estava especialmente linda. Eu estava mais apaixonado do que nunca. Sentia vontade de acariciar seu rosto e dizer-lhe o quanto a amava.”

Agora, imagine se, no lugar de “rosto”, o autor tivesse dito “cara”; teria sido estupidez. Por outro lado, se optasse por “face”, seria aceitável, mas talvez ficasse meloso demais.



Escreva na medida certa

Em quase todas as definições de “conto”, você vai ver que se trata de um texto curto. Mas quão curto? Tem um número de palavras que limite a extensão do texto? A minha resposta é: “não existe um limite exato”.

Mas é importante que não seja longo demais, para evitar cansar o leitor. Por outro lado, deve ser rico de detalhes suficientes. Pior do que escrever em excesso, é compor uma história esquelética ou aleijada de partes e detalhes importantes. Uma das grandes dificuldades em se escrever um conto reside na tensão entre ter que dizer tudo, ser completo, e precisar ser conciso, usar tão poucas palavras.

Segundo o grande escritor e teórico do conto Edgar Alan Poe, a medida é o texto poder ser lido de uma única vez, ou, em suas próprias palavras, “de um só fôlego”. Assim, se for longo demais, e o leitor tiver de interromper a leitura para retomá-la depois, destrói-se o que ele chama de “unidade de impressão”. Em palavras mais simples, o conto pretende causar um certo efeito no leitor, mas, se o texto for tão longo que precise ser lido em mais de uma etapa, esse efeito fica prejudicado. Com as palavras dele:

“Se alguma obra literária é longa demais para ser lida de uma assentada, devemos resignar-nos a dispensar o efeito imensamente importante que se deriva da unidade de impressão, pois, se se requerem duas assentadas, os negócios do mundo interferem e tudo o que pareça com totalidade é imediatamente destruído” (E. A. Poe)


Evite alguns erros

Comentarei, de forma breve, alguns erros que escritores iniciantes ou menos experientes cometem com frequência.

Anunciar, logo no início do texto, que se trata de uma ficção:

Não se deve fazer isso porque o leitor quer sempre acreditar no que está lendo. O escritor deve se esforçar para fazer crer que sua narrativa é verdadeira. Ele deve buscar a “ilusão do real”.

Acelerar demais o ritmo:

Às vezes o autor se precipita e o que, a princípio, parecia ser uma história bem escrita e envolvente se torna um resumo apressado de fatos, resolvendo abruptamente todos os conflitos e chegando rápido demais a um desfecho. Não tenha pressa! Omita o que não interessa, mas não pule as partes de transição, as explicações e descrições necessárias.

Alongar-se em detalhes inúteis:

Só escreva sobre o que tem relevância e função. Se, por exemplo, o passado da personagem em nada influencia nos eventos narrados, esqueça esse passado. Comece por falar de fatos que estejam o mais próximo possível dos acontecimentos centrais da história. Evite também diálogos que não ajudam na progressão. Os diálogos são importantes, mas eles devem ter uma função; em geral, servem para caracterizar as personagens ou ressaltar um momento crítico. Não servem apenas para causar uma impressão realista; ao mesmo tempo que introduzem informação nova e importante, fazem a ação progredir também.

Para, finalizar, um último conselho: por mais chato que seja, é preciso corrigir seu texto. Os erros de escrita desmoralizam todo o seu trabalho e causam uma péssima impressão. Se você acha que falar errado é feio, não vai negar que escrever errado é muito pior.















Comentários

  1. Agradeço muito pelo texto! É raro conseguir orientações objetivas sobre como escrever. Muito se fala e pouco se explica, as orientações apresentadas são diretas e precisas, é só aproveitar!

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  2. Uau. Que aula. Me ajudou muito. Algumas coisas eu fazia instintivamente e outras você iluminou o meu caminho.

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  3. Muito boa suas dicas de como escrever um bom conto, explicações rápidas e sucintas que vão diretas ao ponto.

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